25.9.08

5 milímetros

RECEBI ESTA CARTA ONTEM DE UMA AMIGA:


Queridos,

Como alguns já sabem, sofri um grave acidente de carro.
Não vim aqui pra falar óoooo o que aconteceu foi isso isso isso...
ou saciar nossa sede de dramas.
Vim apenas dividir coisas maravilhosas que tem acontecido. E o email que vcs tem mandando – o pessoal da faculdade – Tb me inspirou. Assim como a vida.

Estávamos indo para São Romão, eu ia filmar e continuar meu documentário sobre uma senhorinha de lá.
Nosso carro capotou 3 vezes, e eu estava sem cinto na traseira. – já sabem a lição...rs
Nem preciso dizer que o carro não era nada depois que o vi quando saí dele.

Era o dia de meu aniversário, e hoje posso dizer que foi um ótimo presente.
No momento em que acordei de um pequeno desmaio e o carro ainda estava dando piruetas, me vi soltinha por dentro e batendo a cabeça muito forte. Sentindo-me esmagada literalmente pela carroceria, inacreditavelmente não tive medo. Não tive medo de morrer, e a sensação foi inacreditavelmente: - tudo bem, ta sendo sério, que a vida me proteja. E de fato, a sensação foi de proteção.
Fiquei inconsciente novamente. Quando acordei, não conseguia sair do carro. Até que uma calma muito forte se apossou. E a certeza de que tudo daria certo novamente tomou conta. Tomei forças e tentei esquecer o medo e o desespero. Ai sim sai do carro com a certeza de ter quebrado tudo por dentro e com a cabeça o dobro do tamanho.
Mas andando.
E isso já era muito pra mim naquela hora.
Olhei para a estrada e vi aquela lua cheia, vermelha, gigante. Lembrei de todas as pessoas que amo. Ou várias. E nessas horas, não tem como. Você lembra as pessoas. Todas as outras coisas, especialmente coisas que antes eu achava importante demais e dava muito valor simplesmente se esvaíram como se não existissem.

No hospital, vi uma cadeira de rodas e senti que poderia ter saído em uma daquelas. Mas eu me via andando. Estava dando um valor absurdo a isso.
Alem disso, saber dos resultados na hora que não havia nada muiiitoo grave, como um achatamento do crânio, também era uma felicidade que qualquer outra coisa hoje, não tem tanto valor. Ou melhor...tudo agora tem valor?
Quando cheguei no Rio pude saber que fraturei uma vértebra cervical. 5 mm de ficar tetraplégica, e não muito mais de morrer na hora. Depois também vim saber que a fratura foi exatamente num excesso de osso. Defeito genético. Que talvez tenha me salvado.

O que me motiva a escrever todas essas coisas aqui, não é por nada alem de dividir as sensações que vem mudado minha vida e das pessoas a minha volta.
Trocamos os valores das coisas. Alem disso: nos trocamos. Achamos que queremos tais coisas, quando que o que é nosso, o que é a gente estamos deixando de lado.
Na maca, ali, na hora, eu só dizia pra mim: vou mudar minha vida...que rumo eu estou tomando? Já sei o que quero ! porque estava fazendo aquelas coisas?

Temos as respostas sempre dentro de nós !
A partir disso, já recusei vários trabalhos. E aceitei outros que talvez, se fosse antes do acidente, teria deixado pra depois. Eu estava simplesmente deixando pra depois coisas que eram as mais importantes pra mim. Sim, temos que ir atrás do dinheiro, ele é necessário. Especialmente para a saúde que é tão valiosa. Mas às vezes percorremos um caminho somente pensando nele, e se fizéssemos o que sentimos muito tesão, aquilo cedo ou tarde nos trás retorno também. Ou se simplesmente seguíssemos nossa intuição...

Não apenas no trabalho, mas pequenas coisas, como sair com amigos. Como rir, brindar mesmo quando as coisas dão "errado". Ou melhor, como não vão como nós queremos que fossem...
Pois se na hora em que o mundo rodava 3 vezes (como diz o André RS) eu não me estressei, não me desesperei, simplesmente tudo poderia acontecer...porque numa entrevista, numa decisão, num pedido, numa briga, numa compra, numa necessidade, as coisas não podem ir como simplesmente devem ser e/ou como a gente luta para que seja? Porque tanto estresse? Tanta expectativa?

Alguém poderia dizer: ahn, viver na pratica é diferente.
É mesmo. Por isso, considero um presente o que aconteceu. Não dá pra passar em palavras. Mesmo que eu tente aqui. Vivendo algo é mais fácil de saber.De relembrar coisas que já estão dentro de nós. Sentindo...
Quando a gente sente na pratica que 5 mm é uma distancia muito pequena para grandes coisas mudarem...
E enquanto isso, nosso pensamento não tem distancia finita... Talvez seja bom pra nós, aprender a abrir as janelas dele.
E deixar ele conhecer novos modos de pensar.
De viver, de amar, de conhecer.

Modos novos de ser. E cada um tem seu modo.

É isso gente, um beijo grande.





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