entrei para comer um salgado e uma mulher gorda de cabelos loiros secos presos e pintados, com a raíz branca, com chapéu e óculos escuros daqueles que tem furinhos quadrados na lente diz que me conhece, pergunta se eu sou do parque lage ou então do exoterismo. ela diz que quando nova queria ser atriz, mas não era bonita para isso, mas.... poderia ter feito teatro. ela falou que a peça do seu wagner com seu aderbal tinha que ser em inglês, porque é o texto original, que o tradutor tinha que ajudar os atores a pronúncia. haveria uma legenda nas apresentações.
mas o que ela realmente queria era ser estrela de hollywood e beijar o brad pitty.
um casal briga na esquina. os vidros do táxi parado no sinal estão fechados, não se entende sobre o que é. ele segura os seus braços, ela o empurra e enfia o dedo na sua cara. os dois atravessam, abre o sinal.
voltamos a pé pela noite, após comer sem pensar na conta.
do outro lado da rua a mulher briga enquanto o homem abre a carteira vazia e esfrega na sua cara.
a outra coroa, feia, anda de salto com suas pernas finas, passa pela gente, se enrosca no seu casaco barato e pára com o primeiro homem grande que cruza com ela. ele pergunta onde ela mora, ela diz que tá cansada. meio sofrida, tem um início de sorriso nos lábios.
ouvimos da janela do vizinho, a mulher perguntando se isso é uma ameaça.
pela primeira vez eu olhei para ele e enquanto ele falava eu não ouvia, porque ardia, eu olhava nos seus olhos mas não prestava atenção.
aconteceu: a sensação de amar, de querer ficar pra sempre de querer um filho.
aquilo ardeu.
ardeu.
estranho porque eu escrevia para ele.
era sim.
às vezes me dá um medo de perder a minha solidão.
na maioria a dor é de antecipação.
a morte.
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