Tem peça que assisto e no final dá vontade ao invés de aplaudir, perguntar "em alto e bom som": - Por que vcs fizeram isso?
Sim! Por que fazem aquela peça, daquela maneira, eles querem o quê?
Quer dizer alguma coisa? Onde se quer chegar?
Eu sei que meu teto é de vidro, mas penso que artista tem que saber o que se quer fazer. Acaba que a maioria dos atores fica numa situação de "fazqualquercoisaprapoderestarfazendo" que inverte a idéia da arte e da mesma forma, os diretores e os novos dramaturgos com as suas "sacadinhas", tendo como finalidade agradar acima de tudo.
Porra! Mas arte é para agradar?
Para mim, arte é para corroer.
Hoje assisti a leitura de "Santidade" do Zé Vicente. O texto é fo-da! A direção foi do Bortolotto. É tão bom assistir uma peça, ouvir uma música, ver um quadro que te tira do estado cotidiano, que te deixe revirado, radiante, sei lá, qualquer coisa que faça mudar aqui dentro.
Dá vontade de ir lá e agradecer por aquilo. Se o Zé Vicente tivesse vivo, com certeza eu faria isso. Deu até vontade de ficar com o pessoal da leitura e sair para beber e falar mais sobre ele, mas como não conheço ninguém assim pessoalmente, evitei ser inconveniente e fui para casa, caminhando sozinha pelas ruas, pensando como é bom um texto que diz alguma coisa.
Cada vez mais tenho a certeza que é isso que quero fazer e não o "qualquercoisatábom,pelomenosestouaparecendo".
Abaixo uma grande parte do texto do Geraldo Thomas, que escreveu no seu blog ontem:
“Não, não… não é o que vocês estão pensando. Não, não é isso. De certa forma… quero dizer, de alguma forma, é o que vocês estão pensando, sim. Não posso negar. De alguma forma, o que vocês estão vendo agora, confirma exatamente isso (o que está no palco, vida, política, jornais, etc), e confirma também o que vocês estão pensando.
Engraçado. Triste. O desmoronamento. Várias obras de arte têm essa cara. Melhor, o PODER tem essa cara também.
O Poder e a Arte tem a cara da destruição!”
E por aí vai a narração inicial de “O CÃO QUE INSULTAVA MULHERES, Kepler, the dog” que estreou semana passada (apresentação única) em Sampa e pelo IG.
Muita coisa pessoal aconteceu na minha vida desde que comecei a ensaiar o espetáculo. Muita coisa aconteceu desde que ela foi ao ar.
Às vezes devemos dar uma parada em tudo. Zerar. Lubrificar o corpo. Postar a alma diante do espelho como o mais angelical dos seres ou o mais diabólico deles e perguntar: “o que estamos fazendo aqui? Pra quem e pra quê? Quem são nossos amigos? Quem são os oportunistas? Quem são nossos inimigos?”
As respostas podem vir na hora. Outras podem demorar algum tempo. De uma forma ou de outra, quem vive uma ‘vida pública’ assim como eu, já deve dormir com um olho aberto. Quem se aproxima… hummm, deve se aproximar porque deve querer alguma coisa.
INÍCIOS DE TUDO
Vejo uma geração (aliás, duas) inteira de pessoas fingindo que estão acontecendo coisas. Uma, a mais velha, FINGE que há um NOVO INÍCIO de TUDO, como se os tempos de hoje fossem a nova Gênese. Bosta. Não tem nada de novo acontecendo além do fingimento oportunista desses alguns que querem estar desesperadamente correndo em busca de um tempo perdido.
E tem de fato a geração de hoje, a nova, que não sabe porra nenhuma mesmo e que olha qualquer negócio com aquele olhar bestial de novidade. Dá preguiça? Não sei. Dá pena. Mas sempre foi assim. Schoenberg já escrevia sobre isso. Outras dezenas também. E sei lá quem escrevia que o “tempo contemporâneo traz memórias pra serem preenchidas”. Ah, tem cara de ser Wittgenstein, mas posso estar chutando.
“Hedonismo perverso”
Olhar MAIS no espelho um pouco MENOS (essa frase é melhor em alemão). Olhar menos no espelho e testar nossas idioTsincrasias e daqueles que consideramos amigos, inimigos ou da tchurma ou da antiTchurma ou de pessoas que consideramos hostis ou da nova FASHION Actor ou Fashion ACTRESS ou do Pink is the new Black. E por quantos anos olharemos para fora ao invés de para dentro para constatar uma coisa, uma única e só coisa?
Sylvia, a cabra, é uma paixão impossível porque ela não existe.
A questão mais profunda e mais dolorosa entre nós da humanidade seria: temos realmente alma suficiente para amar ou entregar, para colocar nosso coração à disposição de alguma outra pessoa em qualquer momento de nossas vidas? Ou o MOTTO do “Kepler the dog” está mesmo certo: ”Não, nao é o que vocês estão pensando. Sim, é o que vocês estão pensando, sim. O que está colocado na frente de vocês e na minha frente agora é isso! E se está colocado na sua frente, tem que ser comido, atacado, digerido, possuído e depois… CAGADO FORA!
XEQUE-MATE!
Gerald Thomas,
Depois de uma longa conversa sobre “amizades da oportunidade” com João Carlos do Espírito Santo.
(O Vampiro de Curitiba na Edição)
PS: “O CÃO QUE INSULTAVA MULHERES, KEPLER, THE DOG”, AO QUAL O TEXTO SE REFERE, PODE SER VISTO no seu blog, o link está logo alí abaixo, como o do Bortolotto que foi o primeiro blog que comecei a ler na minha vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário