
quando cheguei ela sorria para mim. ela realmente estava feliz com a minha presença, era notável, era sincero e era muito bonito. querer alguém por perto é muito bonito, porque AMAR é muito bonito. amar assim incondicionalmente, mesmo conhecendo os defeitos, mesmo com raiva, mesmo sem paciência. ela estava linda, parece que quanto mais o tempo passa mais linda ela fica. seu sorriso e seus olhos eram sinceros, eu nem sabia o que fazer, eu nem consegui tocá-la.
nunca sei o que fazer com o amor. porque ele é tão delicado, tão sutil, tão frágil que tenho medo de não conseguir, por isso sempre me enrolo, por isso vou em outra direção.
mas ela estava ali, linda, com um lenço na cabeça.
é muito duro ver o amor sofrer, doer, querer morrer. bom quando você faz sorrir, rir, se sentir querido. e não há mais nada a fazer. enquanto ela dormia eu a observava, era que nem um anjo.
a minha tia falou que quando a minha morreu, ela ficou com rosto de anjo.
é o ser na sua essência, na sua fragilidade, é aquilo, é a vida, é a morte, é a doença que corrói e o que foi feito disso tudo? o que se pode fazer ainda?
o silêncio, a paz.
eu nunca tive o costume de fazer carinho nela, as tentativas sempre foram poucas e as respostas também raras. hoje fiquei acariciando aquela pele branca e enrugada, suas mãos, seus bracinhos, sua testa. ela recebeu bem, foi a primeira vez que a vi fazer um esforço, para me beijar, mas não... eu atrapalhada como sempre, também não sei ser beijada. me enrolo toda, não sei lidar bem com essas coisas quando vêm do coração. o medo se espalha.
ao ir embora, olhei bem sua imagem na cama, ela sorriu com uma mistura de satisfação e dor.
nessas horas nunca se sabe se vai ser a última vez que se vê aquele sorriso.
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