27.3.10

Felicidade

Levantei cedo e me dispus. Mas o discurso era da mesma forma. Da mesma forma em que todos falam, tal como o pastor da igreja, o cara da empresa patrocinadora e os caras da reunião budista.
E lá estava a minha alma bem caidinha no chão, tal qual a minha cara que tentava disfarçar e tentar aparentar um pouco de respeito, mas aquelas pequenas pausas tal qual professor de vestibular acho que não me deixaram enganar. Mesmo assim agradeci e disse que era muito bonito. Tomei o chá e comi o bolinho.
Caminhei até em casa, num meio-dia de sábado, pensando nisso tudo, nesse desepero, na procura intensa pela felicidade, pessoas cegas e burras por escolha ou não, a não vontade e a vontade de viver. Enquanto trilhava o caminho de Botafogo ao Catete, sempre pela sombra, lembrei que passo uma imagem de ser mais forte e autosuficiente do que realmente sou. Pensei que ninguém é autosuficiente, mas que, realmente não preciso desses antros para continuar e me sentir bem e em continuar vivendo.
Ando lendo Henry Miler, Sexus, e este está sendo meu gurú. Não me telefona, nem tenta ser simpático. Tava na estante, agora está ao lado da cama. É incrível o seu poder de esclarecimento sobre a vida. E ele tá lá, escrito e quieto.
Chego em casa tomo um banho frio e ainda molhada e ainda sem roupa deito na metade da cama para baixo, ventilador e tv 29 em cima de mim. Durmo. A fome chega a doer, mas durmo. Lá no fundo às vezes ouço o programa da tarde, mas não posso dizer quais as celebridades que foram entrevistadas. Depois começa um filme, de ação.
Toca o telefone na sala, acordo sem saber das horas, me enrolo no lençol e atendo. É uma pesquisa sobre a lei antitabagista. Fico na dúvida se quero responder. Mas quero.
Depois de enterrar minha avó definhada por causa "dos males do tabaco" o assunto cigarro sempre é um momento de reflexão, mesmo quando carinhas da Marlboro aparecem na minha mesa do bar cadastrando meus amigos para frequentaram a festa deles. Eu não falo nada mas rejeito tudo. Ninguém entende. Foda-se. Que eles enfiem a festinha moderninha de cigarrinho no cú deles. 
Perguntas robotizadas, só há 2 respostas, concordo e não concordo, que se desdobram em "plenamente" e "em partes". Reparo que as perguntas são apenas sobre a lei e os fumantes, e nunca sobre a lei e os não fumantes.
Lembro da ditadura, penso no higienismo.
"Vc já fumou alguma vez?", penso nas drogas ilegais, mas respondo "três vezes". "Você se considera uma ex fumante?" "Não. Eu só fumei 3 cigarros na minha vida".
De qualquer forma algumas perguntas me fizeram pensar em algumas questões. Ás vezes ficava em silêncio pensando enquanto ela repetia a pergunta roboticamente. Ás vezes eu ria e a moça ria também. Seu riso a desrobotizava, não me parecia boba, quando eu ria, ela ria também, no mesmo tom. Era como se fosse um segredo.
No final me perguntou se eu gostaria de participar de outras pesquisas eu disse "não sei", "essa resposta não existe". Eu sorri e respondi sim.
Voltei para o quarto amarrada num lençol como uma amante que volta ao ninho. Reparei que o filme era de ação, com orientais e estava no final.
Morro de medo de filmes de ação com orientais. Desde criança.





3 comentários:

  1. Hey Camila,

    Gostei do seu texto, da cadência como as partes vão encaixando-se dentro de um contexto.

    Muito bom!

    Aliás, Henry Miller é do caralho, ainda não tive a sorte de ler o Sexus... porém Já li o Trópico de Câncer e o de Capricórnio, e esses livros me levaram pra uma parte diferente, uma visão do mundo muito racional e intrigante!

    beijos

    Guilherme

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  2. Oi Guilherme,
    Legal ter gostado. O cara é duca, e esses estão na lista, já até os tenho.
    Beijo
    Camila

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  3. Ei, olha eu de novo...

    O foda do Henry Miller é que ele teve uma amante, uma escritora francesa chamada Anïs Nin. O trópico de Cancer conta essa história. Como você mesmo disse ela também é "Duca". E o foda que ela tem um livro falando sobre ele chamado "Henry e June". Fica a dica, intenso... muito bom!

    Ahh June no caso é a mulher na época do Henry Miller!

    beijos

    Guilherme

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